quinta-feira, 18 de julho de 2013

Cientistas 'silenciam' cromossomo que causa síndrome de Down


Resultado foi obtido em cultura de células-tronco, informa a 'Nature'.Método pode ajudar pesquisa de formas de tratamento para sintomas.

Em pesquisa publicada na "Nature", nesta quarta-feira (17), cientistas afirmam ter encontrado uma maneira de "silenciar" o cromossomo que provoca a síndrome de Down.
Jeanne Lawrence e seus colegas da Escola Médica da Universidade de Massachusetts usaram uma enzima para introduzir um gene RNA chamado XIST em células-tronco derivadas de pessoas portadoras da síndrome.
O procedimento foi feito numa cultura de células, em laboratório, e não em pessoas. O XIST "encobriu" o terceiro exemplar do cromossomo 21, cuja existência origina a síndrome de Down, fazendo com que seus genes deixassem de atuar. A existência de três cromossos 21 caracteriza síndrome, também conhecida como "trissomia do cromossomo 21".
Ao comparar células com e sem o cromossomo "silenciado", os autores da pesquisa observaram que o XIST ajudou a corrigir padrões incomuns de crescimento e diferenciação observados nas células que têm Down.
Esse método pode ajudar a definir as mudanças moleculares envolvidas na síndrome. A pesquisa se baseou em um fenômeno ocorre naturalmente: durante o desenvolvimento do bebê, o XIST "desliga" um dos dois cromossomos X presentes em embriões femininos, garantindo que as meninas não tenham uma "dose dupla" da ação desses cromossomos.

Bebê com síndrome de Down brinca com a mãe
(Foto: Kirill Kudryavtsev / AFP)

A equipe de Lawrence entrelaçou o XIST sobre uma das três cópias do cromossomo 21 em células de pessoa com Down. Eles também criaram uma “chave” genética que lhes permite ligar e desligar o XIST por meio da aplicação de um antibiótico. Com isso, conseguiram neutralizar a expressão dos genes que se consideram ser causadores de problemas de desenvolvimento associados com a síndrome.
Como os cientistas usaram células-tronco pluripotentes, ou seja, que podem se transformar em células de diversos tecidos do corpo, os autores esperam que futuramente serão capazes de estudar em nível celular como a síndrome de Down se manifesta em cada parte do corpo.
Com isso, o estudo pode contribuir para o desenvolvimento de tratamentos para os diferentes sintomas degenerativos da síndrome. Um problema da técnica apresentada é que o XIST não silencia por completo o cromossomo 21. Isso pode comprometer os resultados dos estudos que comparam células com e sem o gene “silenciador” ativado.

FONTE: G1

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Terapia genética usa vírus do HIV para curar doenças raras

Duas doenças genéticas foram curadas a partir de um tratamento que utiliza versões alteradas do HIV para corrigir o DNA dos pacientes

O HIV é capaz de alterar o DNA das células humanas para se reproduzir.
Os pesquisadores utilizaram essa habilidade para curar doenças (Thinkstock)

O HIV é responsável pela morte de 1,7 milhão de pessoas por ano em todo o mundo. O vírus é especialmente perigoso pois se reproduz ao atacar células do sistema imunológico humano, alterando seu DNA e as obrigando a fabricar cópias de si mesmas — o que deixa o corpo vulnerável a uma série de doenças. Pesquisadores italianos anunciaram, na quinta-feira, o desenvolvimento de uma nova técnica, que utiliza essa habilidade do HIV para, na verdade, curar pacientes. Em duas pesquisas publicadas na revista Science, eles afirmam que utilizaram versões alteradas do vírus para corrigir o genoma de seis crianças e livrá-las de doenças que, até então, não teriam tratamento.As crianças carregavam duas doenças genéticas — herdadas dos pais e carregadas no DNA por toda a vida — conhecidas como Síndrome de Wiskott-Aldrich e Leucodistrofia Metacromática. Enquanto na primeira o corpo é incapaz de produzir uma proteína necessária para o correto funcionamento do sistema imunológico, a segunda afeta o desenvolvimento do sistema nervoso — e ambas podem levar à morte. Como o defeito está nos genes, essas doenças eram consideradas, até pouco tempo, incuráveis.
Nas últimas décadas, no entanto, os pesquisadores têm desenvolvido um método capaz de corrigir diretamente genes defeituosos: a terapia genética. Para isso, retiram células-tronco da medula óssea dos pacientes. Em um laboratório, os cientistas utilizam um vírus para entrar na célula e alterar seu DNA, inserindo o gene desejado. Os pacientes, então, recebem de volta as células-tronco, e passam a produzir a proteína necessária. Como o vírus é alterado geneticamente, ele não é capaz de atacar o organismo.As terapias genéticas costumam funcionar muito bem em testes com animais e em laboratório, mas apresentam problemas quando são transferidas para a clínica. Algumas vezes, o gene terapêutico é produzido em quantidades muito pequenas ou por um período muito curto, abreviando o tratamento. Outras vezes, a terapia acaba por levar ao desenvolvimento de câncer. Para tentar contornar esses problemas, os pesquisadores italianos estudaram a utilização de um tipo especial de vírus: os lentivirus, que agem lentamente e são capazes de deixar, de modo permanente, seu DNA na célula hospedeira. O HIV é, justamente, um dos lentivirus mais conhecidos e estudados.
Os cientistas começaram os tratamentos com o vírus do HIV alterado em 2010. Os resultados publicados nesta quinta-feira levam em conta apenas os primeiros seis pacientes — três de cada doença — que receberam a terapia. “Três anos depois do começo das pesquisas clínicas, os resultados obtidos nos primeiros pacientes são muito encorajadores: a terapia não é apenas segura, mas também efetiva e capaz de mudar a história clínica dessas doenças sérias”, diz Luigi Naldini, pesquisador do Instituto San Raffaele Telethon para Terapia Genética (TIGET, na sigla em inglês), na Itália, envolvido nos dois estudos.
Sistema imunológico — As crianças com a Síndrome de Wiskott-Aldrich herdam uma mutação genética no gene que codifica a proteína WASP — essencial para o funcionamento correto do sistema imunológico. Assim, elas se tornam mais vulneráveis ao desenvolvimento de infecções, doenças autoimunes e câncer, além de ter um defeito nas plaquetas que causa sangramento frequente.
A terapia mais utilizada para tratar essa condição costuma ser o transplante de medula óssea de um doador compatível. Em alguns casos — quando as células doadas são muito compatíveis — a cura é atingida. No entanto, quem não conseguia encontrar um doador tinha de carregar a condição por toda a vida.
Na nova técnica, os pesquisadores retiraram as células-tronco da medula óssea dos próprios pacientes — o que elimina a possibilidade de rejeição. No laboratório, eles usam o vetor criado a partir do HIV para inserir o gene WASP normal em seu interior. Quando são reinseridas no corpo, as novas células são capazes de produzir a proteína correta, restaurando o sistema imunológico do paciente.
Segundo os cientistas, entre 20 e 30 meses após o início do tratamento, os sintomas da doença sumiram ou diminuíram consideravelmente. “Nesses pacientes, as células-tronco corrigidas substituíram as células doentes, criando um sistema imune funcional, com plaquetas normais. Graças à terapia genética, essas crianças não convivem mais com sangramentos severos e infecções. Agora elas podem correr, brincar e ir à escola”, diz Alessandro Aiuti, pesquisador do TIGET responsável pelo estudo.
Agindo no cérebro – Já a Leucodistrofia Metacromática é causada por mutações no gene ARSA, importante para o sistema nervoso. Os bebês com essa doença são aparentemente saudáveis no nascimento, mas em algum ponto de seu desenvolvimento eles começam a perder gradualmente as habilidades cognitivas e motoras, sem nenhum tratamento capaz de frear o processo neurodegenerativo — que acabará por matar a criança.
A partir de uma técnica parecida, os pesquisadores italianos inseriram genes ARSA funcionais nas células-tronco desses pacientes e as devolveram ao corpo. Ali, elas começaram a produzir as enzimas funcionais e a se reproduzir, atingindo o cérebro das crianças, o local mais afetado pela doença.
Dois anos após o início dos tratamentos, os pesquisadores afirmam que a terapia genética foi capaz de frear a progressão da doença. “Nesse caso, o mecanismo terapêutico foi mais sofisticado: as células-tronco corrigidas atingiram o cérebro por meio do sangue e liberaram a proteína correta, que é acumulada pelas células nervosas sobreviventes. Nós tivemos que criar células capazes de produzir uma quantidade de proteínas muito maior que o normal, para neutralizar o processo neurodegenerativo em andamento”, diz Alessandra Biffi, pesquisadora do TIGET.



FONTE: VEJA

Cientistas descobrem nova espécie de inseto minúsculo no Alasca

Imagem do animal foi divulgada na internet para ajudar a identificá-lo.Espécie 'Caurinus tlagu' se alimenta de plantas, dizem pesquisadores.


Inseto da espécie recém-descrita 'Caurinus tlagu' (Foto: Divulgação/"ZooKeys")


Cientistas descobriram uma nova espécie de inseto em uma ilha do Alasca. O minúsculo animal, que mede apenas 2 milímetros, tem a aparência de uma pulga e recebeu o nome científico de Caurinus tlagu.
A descrição do animal foi publicada na última semana na revista científica online "ZooKeys". O inseto pertence à ordem dos mecópteros, que possui mais de 500 espécies identificadas.
Os pesquisadores da Universidade do Alasca em Fairbanks, responsáveis pela descoberta, contam que a internet foi uma ferramenta importante na hora de descobrir se de fato o inseto era representante de uma nova espécie.
Uma imagem foi publicada na rede social Facebook pelos cientistas para que seus colegas entomólogos pudessem dar opiniões sobre o animal. A maioria das avaliações, no entanto, estava errada, disseram os pesquisadores ao "ZooKeys". Só um cientista, da Universidade Estadual de Montana, reconheceu o inseto como sendo pertencente ao gênero Caurinus.
"Nós analisamos milhares de insetos retirados do gelo para as nossas coleções, no Museu da Universidade do Alasca, todo ano. É raro vermos alguma coisa que nos chama a atenção", afirmou a pesquisadora Jill Stockbridge ao site do "ZooKeys".
O inseto minúsculo se alimenta de plantas, de acordo com os cientistas.

FONTE: G1

domingo, 14 de julho de 2013

Fezes de minhoca podem conter a chave para entender o clima no planeta

Cientistas descobriram que bolas de cristal presentes nas fezes dos vermes variam conforme temperatura

Pode parecer inusitado, mas o cocô da minhoca pode conter a chave para desvendar informações sobre a mudança do clima no planeta.
Cientistias britânicos descobriram que as fezes das minhocas podem ser utilizadas para medir temperaturas do passado, abrindo uma janela para as características climáticas de outras épocas.
O estudo mostra que a química das pequenas bolas de cristais calcificados expelidas pelas minhocas no solo variam de acordo com a temperatura.
A pesquisa foi divulgada na publicação científico Geochimica et Cosmochimica Acta .



Cientistas das Universidades de Reading e de York, no norte da Inglaterra, afirmam que os nódulos de carbonato de cálcio ─ resquícios de fezes de minhocas ─ encontrados em sítios arqueológicos fornecem um panorama único das temperaturas locais na Antiguidade.
Já que a forma dos isótopos de oxigênio dentro dos cristais calcificados variam de acordo com a temperatura, eles registram informações importantes do momento presente enquanto crescem dentro das minhocas.
Os grânulos calcificafos medem até 2 milímetros e tem coloração diferenciada, o que facilita encontrá-los em sítios arqueológicos.

Darwin

Emma Versteegh, pesquisadora líder do estudo, disse que "as minhocas da terra produzem excrementos todos os dias, então elas mantêm uma série continua de variações de temperatura, assim como de variações geográficas".
As pequenas bolas de cálcio secretadas pelas minhocas foram identificadas pelo naturalista britânico Charles Darwin em 1881.
As equipes de York e Reading estão concentrando os estudos em amostras que datam de milhões de anos atrás, que foram coletadas em Silbury Hill, a um túmulo neolítico próximo a Stonehenge, na Inglaterra.
O modelo de estudo adotado pelos cientistas britânicos vai permitir identificar o clima e suas variações de temperatura em sítios arqueológicos de milhões ou, ainda, de centenas de milhões de anos.
Charles Darwin discutiu o tema em seu último estudo: The formation of vegetable mould, through the action of worms, with observations on their habits (em livre tradução para o português, "A formação do solo enriquecido com matéria orgânica, por meio da ação das minhocas, com observação de seus hábitos").
Os nódulos de cálcio formam-se numa glândula visível na parte de baixo das minhocas ou em uma área mais próxima da cabeça.
Darwin sugeriu que as minhocas da terra provavelmente utilizariam os grânulos de cálcio para neutralizar o ácido de seu sistema digestivo, e, de acordo com estudos mais recentes, ele estava certo.
Mark Hodson, pesquisador também envolvido no projeto, descreve os grânulos como "uma pastilha contra a indigestão produzida por elas mesmas".
Para os pesquisadores britânicos, os grânulos contidos nas fezes da minhoca poderiam ser comparados com outros métodos científicos, como a análise do centro das camadas de gelo polar, de sedimentos do fundo do mar e dos anéis de troncos de árvores.
Mas a análise das fezes permite traçar uma variação mais sensível em relação ao tempo, bem como geograficamente mais específica, criando uma nova maneira de entender o clima no passado.

Fonte: BBC

terça-feira, 9 de julho de 2013

Estudo avaliará adoção de uso preventivo de pílula anti-HIV no país

Estudo coordenado pela Fiocruz recrutará 400 voluntários no RJ e em SP.Objetivo é dar proteção adicional a grupos vulneráveis.


Pílula do Truvada, que deve ser testado como estratégia de prevenção contra o HIV (Foto: Paul Sakuma/AP)

Uma pesquisa coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai avaliar a melhor forma de implantar, no Brasil, a estratégia do uso do antirretroviral Truvada como forma adicional de evitar a infecção pelo HIV. Também participam do projeto - chamado PrEP Brasil - a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e o Centro de Referência e Treinamento DST/Aids de São Paulo.
A viabilidade da estratégia de prevenção já havia sido demonstrada pelo estudo internacional iPrEx (Iniciativa de Profilaxia Pré-exposição), do qual o Brasil também participou. A pesquisa concluiu que o uso diário de antirretroviral por homens saudáveis que fazem sexo com homens conseguiu prevenir novas infecções com eficácia que variou de 43% a 92%, dependendo da adesão ao medicamento.
A infectologista Brenda Hoagland, que coordena o projeto no âmbito da Fiocruz, observa que, nos Estados Unidos, o uso preventivo do medicamento Truvada por pessoas HIV negativas já é aprovado. No Brasil, o Truvada é aprovado somente para o tratamento da doença (apesar de não ser adotado pelo SUS). “Se conseguirmos mostrar com o estudo que é possível implementar essa estratégia no Brasil, o Truvada terá que obter um outro registro para prevenção, não só para tratamento”, diz Brenda.
Segundo a pesquisadora, o resultado do estudo poderá ser um instrumento que o Ministério da Saúde utilizará para definir se deve ou não adotar a estratégia no país e qual seria a melhor maneira de fazê-lo.
A previsão é que o estudo se inicie entre agosto e setembro, quando começará o processo de recrutamento dos voluntários, de acordo com Brenda. No total, serão 400 voluntários, 200 no Rio de Janeiro e 200 em São Paulo. O perfil buscado são homens com mais de 18 anos, HIV negativos e que fazem sexo com homens. Interessados em participar podem obter mais informações no telefone (21) 2260-6700. Os participantes serão acompanhados durante um ano.
“É importante esclarecer que, de maneira alguma, o objetivo dessa estratégia é substituir a camisinha. Esse medicamento não previne outras DSTs. Trata-se de uma forma adicional de prevenção para grupos que estão mais vulneráveis”, diz Brenda. A coordenação geral do projeto é da pesquisadora Beatriz Grinsztejn, também da Fiocruz.

FONTE: G1

terça-feira, 2 de julho de 2013

Os répteis, chamados de Bunostegos, tinham o tamanho de uma vaca e crânios nodosos




Um réptil com um crânio anormal cheio de protuberâncias percorria parte do norte da África há mais de 200 milhões de anos, quando essa região estava no centro do supercontinente conhecido como Pangeia.Um exame do crânio, que pertencia ao grupo de pareiassauros chamados de Bunostegos, apoia a teoria de que a região – hoje ao norte do Níger – tinha o clima de um deserto isolado naquela época.
"Esses animais são diferentes de todos os outros daquele período", disse um dos pesquisadores, Christian Sidor, biólogo da Universidade de Washington e curador de paleontologia de vertebrados no Museu de História Natural e Cultura Burke da mesma universidade. "A ideia é que eles tenham se separado por causa do clima."O réptil, que possuía o tamanho de um vaca, é um pareiassauro de um grupo de herbívoros encontrados em toda a Pangeia durante o Permiano Médio e Tardio, há cerca de 252 a 266 milhões de anos.
A maioria dos pareiassauros tinha protuberâncias ósseas no crânio, mas os Bunostegos possuem os crânios mais nodosos já encontrados. Os pesquisadores, que publicaram suas descobertas no periódico The Journal of Vertebrate Paleontology, acreditam que as protuberâncias se assemelhavam aos chifres cobertos de pele da cabeça da girafa moderna.
Dados geológicos sugerem que a região era extremamente seca.
"Havia provavelmente uma espécie de oásis onde esses animais viviam", disse Sidor. "Havia água corrente lá, mas isso provavelmente era efêmero."

FONTE: IG

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Cientistas buscam novas ferramentas para caçar novos vírus

Surtos provocados por variações de vírus já conhecidos colocam autoridades de saúde em alerta: mundo não pode ser dar ao luxo de relaxar, dizem especialistas

   Uma nova gripe, H7N9, matou pelo menos 36 pessoas desde que foi encontrada pela primeira vez na China há dois meses. Um novo vírus da família SARS vitimou outras 22 pessoas desde que foi encontrado na Península Arábica no verão passado.   Nos últimos anos, talvez isso pudesse ter sido motivo para pânico. No entanto, as vendas de frango e carne de porco não caíram, como ocorreu durante surtos de gripes ligadas a suínos e aves. O número de viagens para Xangai e Meca não diminuiu, nem houve alertas pelo fechamento de fronteiras nacionais.
   Será que essa reação relativamente calma é adequada? Ou o surgimento simultâneo de duas novas doenças sugere algo mais grave? Na verdade, dizem os especialistas, a resposta para ambas às perguntas pode muito bem ser sim.
  “Fizemos um excelente trabalho a nível mundial nos últimos 10 anos”, diz William B. Karesh, veterinário especialista em vida selvagem e chefe de políticas de saúde da EcoHealth Alliance, que monitora epidemias entre animais e seres humanos.
Coronavírus: novas doenças e vírus estão surgindo cada vez mais rápido, colocando autoridades de saúde em alerta

   “Em comparação à H5N1 e SARS, estamos resolvendo o problema dessas doenças muito, muito rápido.”
   Mas ele acrescenta que “as pessoas se tornaram insensíveis ao longo do tempo – pensando ‘Ah, OK, outra doença’”.
   Já os cientistas dizem que o mundo não pode se dar ao luxo de relaxar. A ameaça é real. Novas doenças estão surgindo mais rápido do que nunca.
  O parasitologista Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, chegou mesmo a citar um número: 5,3 novas doenças a cada ano, com base em um estudo que utilizou dados de 1940 a 2004. Ele e seus coautores culparam o crescimento populacional, o desmatamento, o uso excessivo de antibióticos, a agricultura industrial, o comércio de animais vivos, a caça de animais selvagens, as rápidas viagens aéreas e outros fatores.
   Alguns aspectos dos novos vírus são assustadores. O coronavírus árabe – agora oficialmente denominado MERS, que quer dizer síndrome respiratória do Oriente Médio – matou cerca de metade das pessoas que infectou, enquanto a SARS matou menos de um quarto; em laboratório, o vírus se replica mais rápido do que a SARS, penetra as células do pulmão mais facilmente e inibe a formação de proteínas que avisam ao corpo que ele está sob ataque.
   Em seu discurso de encerramento na reunião anual dos ministros da saúde do mundo realizada recentemente, Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial de Saúde, disse que o vírus era agora a sua “maior preocupação”.
   Até especialistas descobrirem onde ele se esconde e como infecta os seres humanos, “estamos de mãos atadas no que diz respeito à prevenção”, disse ela. “São os sinais de alerta, e nós temos que reagir”.
   A gripe H7N9 foi fatal em um quarto dos casos conhecidos – a gripe espanhola de 1918 matou apenas dois por cento de suas vítimas – e já tem uma mutação perigosa, que facilita a replicação nas temperaturas do corpo humano.
    Ainda assim, a melhoria da vigilância significa que tais ameaças estão sendo encontradas mais cedo, possibilitando que haja tempo para desenvolver contramedidas, como vacinas, e diminuindo a probabilidade de que um vírus como o da gripe de 1918 volte a matar milhões de pessoas.
   Isso também significa que o fato de surtos de doenças desaparecerem de maneira despercebida agora disparam alarmes, para melhor e para pior. Cinquenta anos atrás, até mesmo o temido H5N1 da gripe aviária, que surgiu em 2003 e mata cerca de metade de suas vítimas, pode ter se perdido. É tão raro ela passar para seres humanos que até o momento permanece basicamente um problema aviário: ela já matou milhões de frangos e alguns rebanhos de aves selvagens, mas em uma década inteira ceifou apenas 364 vidas humanas, e só sabemos disso porque é possível distingui-la de outras gripes por genotipagem.
   A capacidade do mundo de detectar novas doenças se acelerou tanto por razões técnicas quanto por razões políticas. Em primeiro lugar, hoje o sequenciamento genético é feito rapidamente em muitos laboratórios.
   Em segundo lugar, hoje é possível ter acesso imediato a descrições precisas de sintomas. Serviços de notícias on-line, como o ProMED, dispondo de cientistas-membros em todo o mundo, emitem diversos relatórios diários a respeito de surtos de doenças de todo tipo, desde a murcha bacteriana da banana até o Ebola humano, passando pela febre catarral ovina. Além disso, sequências genéticas de novos vírus são frequentemente colocadas em bases de dados públicas, de modo que o percurso que percorrem pode ser rastreado.   Os cientistas descobriram, por exemplo, que uma convenção da juventude católica realizada em Sydney, Austrália, em 2008 atraiu cepas de influenza que semearam novos surtos em todo o hemisfério norte.
   Em terceiro lugar, e não menos importante, os países que costumavam esconder os surtos ocorridos em seu território agora admitem quando são acometidos por eles. Seria praticamente impossível agora, por exemplo, repetir o que aconteceu na África na década de 1980, quando presidentes do continente insistiram durante anos que não havia ninguém com AIDS na região.
   Ocultar um surto significa hoje uma violação dos regulamentos da Organização Mundial de Saúde, adotados logo após a epidemia da SARS. As regras exigem que os membros divulguem qualquer evento de saúde pública que possa se espalhar para além de suas fronteiras.
   Tanto a H7N9 quanto a MERS se encaixam nessa descrição. Ambas não são facilmente transmissíveis, embora seja quase certo que as duas infectaram membros de uma mesma família, enfermeiros ou colegas de quarto do hospital depois de uma longa exposição. A maior parte das mortes causadas por ambas foram de pacientes idosos com problemas de saúde. O que é mais preocupante é o fato de que ninguém sabe de que maneira esses vírus infectam suas vítimas.
   A H7N9 é uma gripe aviária que é uma mistura de genes de galinhas domésticas e aves aquáticas selvagens. Mas muitos chineses acometidos pela H7N9 não tiveram contato, até onde se sabe, com aves, e a doença foi encontrado em aves em pouquíssimos casos. Ao contrário da H5N1, ela não dizima bandos de aves, de modo que é difícil de rastrear o seu percurso. Seu padrão de propagação se concentrou basicamente no entorno de Xangai, sugerindo que ela atacou principalmente aves, não pássaros migratórios.
   Uma década atrás, a H5N1 também começou na China, mas se propagou em direção ao oeste, em ziguezague, quando aves aquáticas selvagens passaram o verão compartilhando lagos da Mongólia com espécies que seguiram rumo ao sudoeste, para a Europa Oriental, o Egito e a África, e foram atingidas por tempestades que as levaram até a Grã-Bretanha.
   As origens da MERS são ainda mais intrigantes. Os cientistas entendem que ela foi transmitida por morcegos, porque ela é geneticamente mais próxima do coronavírus encontrado neles do que a SARS ou do que os quatro coronavírus humanos de que se tem notícia, responsáveis por provocar os resfriados comuns. Porém, embora morcegos que habitam o México, a Europa e a África tenham vírus semelhantes, ainda não foi encontrado nenhum caso entre morcegos, camelos, cabras árabes, nem em outros animais que pudessem vir a transmiti-lo para os seres humanos. Agora, os médicos estão procurando isolar os doentes e tratá-los com os antivirais oseltamivir e zanamivir contra H7N9, e com ribavirina e interferon, contra MERS.
   Se começar uma epidemia de um dos vírus, o próximo passo será a vacinação.
   Os Centros de Controle e Proteção de Doenças (CDC) começaram a fabricar uma vacina contra a H7N9 no início de abril.
   A primeira das várias possíveis pode estar pronta para ser encaminhada aos fabricantes até o final de maio, disse uma porta-voz. Não é possível prever quanto tempo será então necessário para produzir e embalar milhões de doses, disse ela, mas o processo deve levar pelo menos seis meses.
   A produção de uma vacina contra a MERS vai demorar muito mais tempo, afirma Mark A. Pallansch, diretor da divisão de doenças virais dos CDC. Apesar de vacinas contra a gripe serem produzidas em todo o mundo há 60 anos, a busca de uma vacina contra o coronavírus decaiu desde a epidemia de SARS.
   Até recentemente, as partes mais interessadas eram os criadores de aves, dado que o coronavírus é letal para os perus. Os coronavírus são extraordinariamente complexos, de modo que encontrar alvos potenciais para as vacinas tem sido difícil, e os extensivos testes de segurança custam caro. Além disso, apenas recentemente foi encontrado um modelo animal para a realização de testes – os macacos, nos quais o vírus provoca pneumonia.
* Por Donald G. McNeil Jr

FONTE: IG